Era muito mais divertido fazer piada sobre as dificuldades de ser adulto (dobrar lençol de elástico! Pagar boleto!) quando isso não incluía manter vivo um outro ser humano.
Essa semana meu filho mais novo fez dois anos. Então resolvi falar um pouco sobre como é ser pai. Para contexto, minha mais velha tem quatro anos e meio. Sim, dois toddlers, pequenos agentes do caos. É bem complicado morar com dois pequenos gnomos raivosos, então é comum a gente se trancar no armário para ouvir os próprios pensamentos.
Gravo este podcast (agora são 21:30), e estou dentro do meu carro, o único lugar onde consigo falar alto o suficiente sem acordar as crianças, meu estúdio improvisado.
O problema é que você não precisa tirar carta nem brevê para ter filho. Ninguém te dá um manual de instruções — aliás, na verdade as pessoas te dão cinco manuais, cada um com uma coisa diferente. Quando a mais velha nasceu a gente chegou a ler oito ou nove livros sobre como cuidar de crianças, cada um dizendo uma coisa. É desesperador, e só resta seguir, por conta própria, a sua intuição.
Lembro quando a gente saiu da maternidade há quatro anos e meio. Enquanto você está no hospital é ruim, as enfermeiras fazem exames a toda hora, mas então você chega em casa com uma criaturinha recém-nascida. E aí? O que você faz agora?
Naquela hora caiu a minha ficha. Caramba, agora eu preciso ser um adulto de verdade.
Não é muito fácil não, até porque os filhos parece que vêm para escancarar nossos defeitos. Antes de ter filho eu me achava um cara bacana, tranquilo, capaz de lidar com adversidades. Só que vieram os pequenos e meu Deus do céu, uma coisa que não sou é calmo.
Mas a natureza zoa demais com a nossa cara. Quando ela inventou o filho foi para deixar a gente completamente zoado, não é possível. Quando você tem criança pequena em casa você precisa ser um exemplo, ser paciente, amoroso, carinhoso. É algo que demanda uma energia, tanto física como mental e espiritual, algo muito intenso.
Só que você vai fazer tudo isso no período em que vai estar mais privado de sono da sua vida. Sem dormir, ou acordando de hora em hora, a cada duas horas, seja lá que rotina tenha a criança, e a conta…. a conta não fecha.
Não dá para criar filho como se fosse um sprint. É realmente uma maratona. Só que uma maratona com uma criatura pendurada no seu pescoço falando “tô com foooome”, e outra cacarejando no seu ouvido há horas.
Para passar um pouco de como é a relação com filhos, lembrei de uma historinha que aconteceu há seis meses. Eu queria colocar umas plantas num canteiro de casa, mas as cachorras viviam cavando, mordendo as plantinhas, bagunçando tudo. A solução? Vamos fazer uma cerquinha para resolver.
Assim que terminei de cortar a madeira, a esposa apareceu com as crianças “vamos ajudar o papai, vamos pintar”, e pegaram as tintas, e foram pintando cada madeirinha de uma cor. Só que eu queria que aquele cantinho da casa tivesse uma cara de adulto.
É meu cantinho decorativo, então na hora que começaram a pintar me bateu um desespero, mas… já era. No fim ficou parecendo playground de creche. Não consegui aquele visual sofisticado que estava buscando.
Mas ao mesmo tempo, as crianças se sentiram tão felizes de estarem participando, de ajudar, de ter um pedacinho da casa que foram elas que pintaram. E me pergunto qual era a necessidade que eu tinha de ter um visual sofisticado naquele cantinho?
Para encerrar, uma música que cantei muito para minha filha dormir. Deixa ser, do Teatro Mágico.
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