Meu problema com o Twitter é o que essa rede social faz com minha mente quando eu não estou no Twitter.
Calma, eu explico. Mas, como sempre, vamos ter que dar uma voltinha. Minha mente fala o tempo todo, sou uma daquelas pessoas que não consegue silenciar essa voz interior, estou o tempo todo remoendo conceitos, revivendo o discurso constrangedor na quinta série, ou trabalhando em projetos: pensando no livro que estou escrevendo, contos, post para sair no blog ou pauta pro próximo podcast.
Raramente, a mente volta ao presente, pensando nas cebolas bem à minha frente que estou cortando para o almoço.
Sim, existem jeitos de silenciar a mente, com meditação, por exemplo, já li que ajuda a acalmar a mente inquieta, mas isso não vai acontecer enquanto meus filhos forem pequenos.
Então, o que o Twitter faz? (E quando digo Twitter, você pode preencher com sua rede social favorita, seja o Facebook, o Instagram, enfim.) Ele sequestra o meu falatório mental. Em vez de eu pensar o tempo todo em pautas, posts, projetos, livros e personagens, fico pensando em tuites.
Como isso? Massageando o ego. Então eu vou lá e posto um tuíte, por exemplo:
“Minha filha está lá, brincando o tempo todo com o pônei, voando para todo lado. É só eu abrir o bico para comentar “uau, como ele voa bem”, para ela virar para mim com “papai, é só um boneco, estou segurando ele.”
Então, depois de uma hora, aparece algo como “seis pessoas curtiram isso, uau! Você é muito especial!” E vem aquele calorzinho no peito, e o pensamento, “sabe o que seria mais especial? Se sete pessoas curtissem a sua mensagem.” E lá se vai um dia inteiro pensando em tuítes para ganhar mais coraçõezinhos de estranhos.
É uma perda de energia mental tão grande. Principalmente porque vivo do que escrevo, então preciso que a minha mente trabalhe um pouco quando estou longe do teclado, caso contrário as ideias não se desenrolam.
É por isso que as estratégias de lidar com redes, como por exemplo, limitar o tempo, não funcionam direito comigo. Também porque não consigo entrar, postar e ir embora. Posso até fechar a janela, mas fico “será que alguém curtiu?” E agora? E agora, já teve retuíte? Esse barulhinho na cabeça atrapalha demais.
Isso tudo está ligado ao ego, claro, se eu fosse uma pessoa mais evoluída eu não teria isso. Mas, né, estou aqui, então preciso resolver o que eu faço.
Esse post é para falar que eu vou sair do Twitter?
Provavelmente não. O Twitter é aquele boteco onde a galerinha que escreve fantasia e ficção científica se reúne. A gente sabe que a cerveja é ruim, o dono é um cretino e ali ao lado tem uma mesa cheia de neonazistas.
Mas aqui no nosso cantinho, onde a gente conversa entre a galera, o papo é legal. Sinto falta disso nas épocas que saio.
De qualquer forma, o primeiro passo para se livrar desses mecanismos de sequestro da mente, que as redes sociais utilizam, é entender como eles funcionam. Então estou aqui neste podcast dando uma aulinha para mim mesmo, para ver se eu aprendo.
A trilha de hoje é One More Time, do Daft Punk, que anunciou essa semana a sua separação, por meio de um filme iraniano de sete minutos no qual (quase) nada acontece.
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