A Outra Holambra é uma série de minicontos fantásticos inspirados pela cidade, publicado no jornal local. Veja todos os contos ou comece pelo início.
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Enquanto o kabouter batia a sola dos tamancos na água, Ana estava sentada no chão, o celular em cima do caderno. Se ninguém podia ver Roel, pelo menos ninguém a acharia louca falando sozinha.
Conversavam amenidades, sobre carpas viverem 60 anos, provas de português e cachoeiras artificiais, mas Roel percebeu que havia algo errado, abrindo espaço para o silêncio.
“Como você faz para alguém gostar de você, Roel?” perguntou Ana, meio de atravessado, quase enfiando o rosto no caderno.
“É difícil”, respondeu Roel, sabendo que, nesta idade, não havia resposta. “Você só tenta encontrar quem te queira por perto.”
“Ser você mesma, esse clichê é uma droga! Quem vai querer ser amiga de alguém como eu?”
“Para, Ana. Você acha essa carpa bonita? Só tem carpa num laguinho desses porque é um peixe tão forte que é considerado praga. Beleza vem de dentro. E eu estou aqui, não? Eu podia ter só crescido o seu manjericão e desaparecido.”
“Obrigada, Roel.”
“Vem. Você precisa de um sorvete”, disse o Kabouter, de repente do tamanho de um humano. “Parafraseando alguém com sabedoria, se você não gostar de si mesma, como é que vai conseguir gostar de outra pessoa?”