Rodrigovk
Escritor, faz-tudo, editor e pai

Cânone em D [Egotrip]

Há exatos dez anos, dia 16 de abril de 2011, eu estava de terno e tênis dizendo o famoso sim no altar. A música que tocava era essa aí, Cânone em D, do Pachelbel. (Bom, teria sido se o DJ não tivesse errado justo nessa hora.)

E eu não consigo imaginar como seria uma vida sem ela… Mentira, consigo sim. Para ser sincero, é algo que eu penso bastante. Porque se tem uma coisa que aprendi nesse tempo é que dá trabalho.

A gente costuma pensar no altar como a linha de chegada. É o final da novela, né? Mas a parte de dizer para a sociedade que aquela é a pessoa com quem você escolheu dividir a vida é só o começo.

Já tentou manter uma fogueira acesa por mais que alguns minutos? É difícil, o fogo tende a queimar a lenha que você colocou lá, e você precisa ficar alimentando, senão apaga.

Casamento é um pouco assim, tem muita coisa querendo apagar. As vezes que a gente briga por discordâncias em relação às crianças. A cara virada porque de novo sobrou a louça para eu lavar. A solidão de se sentir trocado por um celular quando na verdade é apenas cansaço e a necessidade de quinze minutos longe de outro ser humano.

Alain de Botton, fundador do School of Life, diz que a maior dificuldade de estar em um casamento é o fato de que somos seres humanos, e como tais, imperfeitos. E não há máscara que sobreviva a uma relação tão íntima. A dificuldade de aceitar um cônjuge cheio de imperfeições é a dificuldade de nós nós aceitarmos como imperfeitos também.

Ainda assim.

Quem diz que não consegue imaginar a vida sem o outro ou está mentindo ou não é escritor. Sei lá, eu estou sempre em mil cenários diferentes, imaginando como seria estar solteiro, ou como seria com outra pessoa. Mas é uma comparação desonesta, porque a realidade não é párea para a ficção. (E a gente sempre tem a versão idealizada daqueles que não dormem e acordam do nosso lado)

Em nenhuma das muitas versões inventadas da minha vida a esposa faz piadas com o Rodrigo Hilbert. Ou dá risada de piadas muito tontas feitas com barulho de buzina de carro velho. Ou faz coreografia de axé dos anos 90 na cozinha. Ou passa a mão no meu cabelo dizendo que gostou do corte. Ou senta ao meu lado no sofá depois de horas fazendo as crianças dormirem e me pergunta se vão ficar bem no futuro.

São momentos pequenos, mas que cabem o mundo inteiro. Eles só existem na realidade.

Ser casado é difícil, não vou mentir. Mas a magia de fazer funcionar, para mim, é conseguir ser capaz de imaginar mil cenários diferentes. E ainda assim, escolher todos os dias alimentar o fogo, por acreditar com todo o coração que com ela, a minha vida é mais plena.

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    1 Comment on “Cânone em D [Egotrip]”

    • O texto casa bem com a minha vida de casado também. ( desculpa o trocadilho,rsrsrs)