A Outra Holambra é uma série de minicontos fantásticos inspirados pela cidade, publicado no jornal local. Veja todos os contos ou comece pelo início.
\—
Roel fez brotar tulipas, lírios e narcissos na base de cada estátua. Sabia que as Witte Wieven tinham fama de caprichosas e não queria incomodá-las com coisa pequena, mas precisava de um conselho das Damas de Branco.
“Tens talento, pequeno Roel”, disse o vulto ao seu lado.
“Ninguém me chama de pequeno há um bom tempo, senhora”, respondeu ele.
“Bobagem, todos crianças. Todos vocês”, riu ela.
“Krampus quer me expulsar da colônia. A menos que eu corte relações de vez com uma amiga”, disse o kabouter, direto ao ponto.
“Falas como se a decisão não estivesse tomada. Medo é normal, pequeno. Faz parte de estar vivo. Felizes aqueles que sabem onde encontrar um abraço para enfrentá-lo.”
“Vale a pena? Desrespeitar a geração que me criou?”
“Se tu não brigares pelo que acreditas, quem o fará? Cada geração tem o tempo nesta Terra para encontrar o caminho adiante. Tu queres diferente, não? Enfrentar o inimigo é fácil, difícil é mostrar a quem amamos que o caminho pode ser diferente.”
Ana rolava a tela do celular na cama enquanto Bia jogava no computador, xingando livremente, pois estavam sozinhas em casa naquela tarde preguiçosa. Ana reparou então em algo errado no vaso de manjericão que dera à amiga, sobre a mesa ao lado da janela. As folhas, que há pouco estavam vivas, murcharam de repente.
“Viu isso?”
“Como, se veio por trás e…”
“Não, o manjericão! Olha!”
Mas Bia estava entretida demais para desviar o olhar da tela. “Roel?” chamou Ana.
Então o kabouter apareceu sentado no batente, tamancos, colete, chapéu panamá, vestimenta completa. Bia deu um berro de susto, deslizando a cadeira para trás de uma vez, quase estatelando no chão.
“Oi, Bia. Sou Roel, o amigo estranho da Ana.”