Rodrigovk
Escritor, faz-tudo, editor e pai

O futuro que a gente constrói [Egotrip]

A música de hoje, “One Day,” do Matisyahu diz logo no começo: “e rezo a Deus, não me leve logo, pois estou aqui por um motivo“.

Qual o sentido disso tudo? Por que eu estou aqui, fazendo podcast, falando sobre Chuva, sobre celular?

Hoje foi um dia difícil. Geralmente consigo me isolar no meu mundinho, na minha bolha de privilégio. Moro numa casa afastada, num sítio, mas às vezes entro no Twitter e todo o sentimento acerca dessa calamidade que estamos vivendo me invade com tanta força que me paralisa. Não consigo trabalhar, nem escrever, nem fazer nada. E vem a questão: qual o sentido disso tudo? Pra quê?

Nessas horas, há poucas coisas que me ajudam. Uma delas é conversar com meus irmãos, com quem eu consigo ter uma conversa muito franca, outra é pensar sobre o futuro.

Hoje escutei um episódio do Cronofobia. É um podcast intimista, como o meu, de cinco a dez minutos do Angelo contando alguma coisa da vida. Hoje ele explicou por que não quer filhos, o que, entre outro motivos, tem a ver com pessimismo em relação ao futuro, pois estamos caminhando para o caos.

Discordo. Bom, já tenho filhos. E a partir do momento que você tem filhos, principalmente crianças pequenas, você tem um compromisso institucional com o otimismo.

Na real, a curto prazo meu pessimismo é bem grande. As coisas vão piorar. Mas sou otimista a médio e longo prazo. Acredito que estamos entrando numa vala para subir do outro lado.

Hoje estamos vivendo o que é provavelmente a maior calamidade do mundo, e principalmente no Brasil, graças a essa incompetência estratégica, sistêmica, revoltante. Mas tragédias passam. Não querendo diminuir o que estamos vivendo, é o que preciso repetir para mim mesmo para conseguir seguir em frente. Tragédias passam.

A humanidade viveu coisas terríveis, passamos por escravidão, passamos por duas grandes guerras, e isso passou (embora ainda vivamos a consequência direta disso). Mas vai passar. A pandemia vai passar, o presidente vai passar. O mundo vai se curar.

O mundo está se curando. Mas não de uma forma shimbalaiê, automaticamente todo mundo vai ficar amiguinho, que legal. É um pouco quando você tem criança, e está vendo ela fazer besteira. Você tenta ajudar, mas ela não quer ajuda, e só resta deixar a criança fazer bobagem e viver a consequência disso para aprender.

A gente, como povo, talvez como humanidade, é essa criança batendo a cabeça na parede para ver se dói. Talvez a gente aprenda. Talvez a gente saia disso acordando para o fato de que o governo não é seu amigo. Que empresas não são suas amigas. Que as grandes corporações não estão nem aí pra você. Que o governo não é seu amigo, mas a gente precisa do coletivo, dessas estruturas que garantam que a gente possa viver bem em comunidade. É difícil acreditar nisso tudo.

Estamos num momento em que o mundo entra em pequenas revoluções. Como aquela da importância de comprar do pequeno produtor, de comprar de quem está do seu lado, de quem está perto, e parar de comprar tudo na Amazon, por exemplo.

Ou a revolução da agricultura local. Comprar de pessoas que produzem os alimentos na sua região. Agricultura regenerativa, um sistema que em vez de importar adubo da Finlândia criado por métodos extremamente poluentes, você usa animais para adubar o solo, ou culturas específicas. São técnicas que fazem com que o solo se regenere enquanto produz. Isso é muito mais barato do que ficar comprando adubo e gastando diesel de tratores. Como se usa menos maquinário, não vai acontecer em áreas imensas, fazendas enormes onde é tudo maquinário pesado. Isso vai acontecer no pequeno produtor.

Essas revoluções vão acontecer. A gente vai aprender a olhar para a nossa comunidade.

O futuro é complexo.

Ao mesmo tempo em que vamos ter que nos preocupar com mecanismos de invasão de privacidade absurdos, como as TVs que escutam toda a conversa da sua sala, a gente vai viver numa era de energia limpa. Carros a combustível fóssil estão com os dias datados, daqui a dez anos não tem mais carro a gasolina rodando na Europa. Em pouco tempo isso chega no Brasil também.

A gente vai viver numa era de precarização trabalhista, mas, ao mesmo tempo, de moedas descentralizadas na qual os bancos terão muito menos poder. Vamos ter uma série de mecanismos de troca que não dependem de um órgão centralizador.

Então vamos pintando um cenário que não é fácil criar na cabeça. É muito diferente, pior, mas ao mesmo tempo, melhor (e olha que escrevo ficção científica. Mesmo assim, tenho dificuldade em criar estes cenários na cabeça).

O pessimismo é um caminho fácil. Otimismo demanda mais esforço.

Só que eu tenho criança, né? Eu não tenho a outra opção, eu tenho o dever de pensar um futuro melhor para elas. Tem uma frase da Ursula LeGuin:

O poder do capitalismo parece inescapável, assim como foi o direito divino dos reis. Qualquer poder humano pode ser resistido e mudado por seres humanos. Resistência e mudança geralmente começam na arte.

Esse foi um desabafo e uma mensagem, talvez, esperançosa. E um pedido para que consigamos trabalhar um futuro melhor na nossa arte, e, quem sabe, na nossa realidade.

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