Rodrigovk
Escritor, faz-tudo, editor e pai

Crush de amigo [Egotrip]

Eu tenho muitos amigos. Mas a maioria das minhas amizades são não correspondidas.

Estava lendo um artigo que me apresentou o termo “relações parasociais”, ou “relacionamentos parasociais”. Foi cunhado na década de 50 por dois pesquisadores para dar conta de relacionamentos unilaterais, ou seja, quando uma pessoa tem um relacionamento muito intenso com outra, que nem sabe da existência da primeira.

Isso se aplica principalmente a celebridades, na época da TV, do cinema. O que os pesquisadores verificaram é que o investimento emocional nessas relações parasociais, do fã para o ídolo, é tão forte, um vínculo tão íntimo, quanto o da própria família.

A pesquisa determinou três fatores que estabelecem este relacionamento:

  • Frequência de contato,
  • Volume de exposição,
  • Intimidade (ou ilusão de intimidade).

Antigamente a gente tinha essa ilusão de intimidade por meio dos tablóides, da imprensa. Mas o artigo puxa uma linha direta para os influencers. Onde a gente tem uma frequência muito grande (todos os dias), volume enorme de informações (a pessoa posta uma, duas horas de vídeos por dia), e essa intimidade, com a exposição voluntária da própria vida, e isso cria relações parasociais muito fortes. Talvez o influencer seja o ápice do relacionamento parasocial, onde você considera o cara o seu melhor amigo e ele nem sabe que você existe.

Antes da pandemia minha casa sempre foi um lugar cheio de amigos. Quando eu fazia festas de aniversário (minha ou das crianças), sempre tinha bastante gente aqui. Olhando de fora, nossa eu sou alguém super sociável, cheio de amigos, mas a maioria dessas pessoas são “meio que amigos”, pessoas que se tivessem outro compromisso da família ou de amigos mais íntimos, nem apareceriam em casa.

Colocando de outra forma, essas pessoas são “candidatas a amigas”, pessoas que eu gosto muito e quero me tornar mais íntimo delas, mas ainda não rolou, e fica essa relação. Que talvez seja uma relação parasocial, sei lá.

E então veio a pandemia, que reduziu o número de amigos que considero íntimos para três pessoas, com quem eu falo toda semana, troco uma ideia, falo no telefone. Que são aquelas amizades mesmo, no sentido clássico.

E fica aquela questão, como você chama o resto? Como você chama os seus amigos online? Tenho muitos amigos que vejo só em eventos de literatura, ou até que nunca vi pessoalmente. Mas a gente está lá a cada duas semanas conversando no Twitter, no Telegram, nos grupos, pessoas que considero pra caramba, cujo trabalho admiro demais.

Mas é amigo? Não é? É uma relação parasocial? Não? Não sei qual é a recíproca aqui (muitas delas tenho certeza que são totalmente parasociais).

É engraçado, a gente tem um grande leque de terminologia para o relacionamento romântico, começando pelos mais unilaterais, como o interesse, o crush, e vem o pretê, o ficante, até que chega nos ambivalentes, onde vai para namoro, noivado, até o casamento onde as pessoas falam para a sociedade que ambas querem investir naquele relacionamento.

Fora do âmbito romântico, não tem terminologia. Como eu chamo o crush de amigo?

É engraçado, tem um casal na escola da minha filha que minha esposa e eu temos o maior crush neles, parecem ser pessoas muito interessantes. É uma coisa adolescente, como você chega na pessoa? Eu fui lá, convidei para comer uma pizza, tomar um sorvete com as crianças e minha esposa ficou morrendo de vergonha.

Como você cria intimidade? Não sei, quem souber me ensina?

Como você chama seu pretendente de amigo? Essas pessoas que frequentavam minha casa, que quero muito que sejam minhas amigas, mas amizade demora, não acontece em “uma festa”. Como você chama esse meio termo?

Não sei, talvez eu pense demais nisso. Amo ter a casa cheia de pessoas, adoro apresentar pessoas de núcleos diferentes da minha vida. E sei que um dia eu vou voltar a ter a casa cheia de amigos.

A música de hoje é “Memories”, do Maroon 5, que descobri uma vez fazendo compras, e acabei ouvindo muitas vezes.

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    1 Comment on “Crush de amigo [Egotrip]”

    • adorei esse episódio/post. me identifiquei bastante e foi divertido ouvir você falar sobre.
      tenho muito amigo que não sabe da minha existência (neil gaiman, é um exemplo), além daqueles que você tem uma consideração imensa, mas sabe que eles não tem tanta assim por você. todas as pessoas mais próximas que eu tenho, além da minha família, são meus amigos da internet. chamo eles de amigos porque é a definição perfeita mesmo.
      divido as categorias em “conhecidos”, “colegas”, “amigos” e talvez “melhores amigos”/”amigos mais próximos”. no caso das pessoas da sua festa, eu imagino que sejam colegas, mas posso ta enganada, porque é uma forma que eu criei para ver as coisas.

      adoro seu conteúdo! 🙂