Rodrigovk
Escritor, faz-tudo, editor e pai

Crisálida [Egotrip]

Semana passada terminei um conto novo. Então, o tempo que usei para escrever é o tempo que eu usaria para gravar este podcast. É duro precisar decidir, ou escrevo, ou gravo. Acabei escolhendo escrever e terminei um conto novo, o que é bacana.

Mas essa é só uma forma bonita de colocar as coisas. A verdade é que semana passada eu estava muito cansado. O rotina com as crianças deu uma desalinhada. Quem tem criança pequena sabe que tem época que a criança começa a dormir mais tarde, ou acordar de madrugada, e isso acaba ferrando o seu dia inteiro.

E isso num contexto de pandemia. Nossa rotina que já era restrita fica ainda mais fechada, e o stress toma conta. Foi difícil. Semana passada foi difícil. Para não deixar sem podcast, peguei um conto e li para vocês. Se você escuta na ordem, provavelmente já ouviu. [Nota: o episódio com o conto não será transcrito ou publicado neste blog, por enquanto].

Inclusive, gostaram? Manda um feedback, um retorno, o que vocês acharam?

Então terminei um conto essa semana, e estou nessa de dar uma arrumada no meu material escrito. Meus contos, textos. Também aconteceu que lembrei que eu tenho um conto em inglês que já havia sido rejeitado, mas não mandei para nenhum outro lugar. Então mandei para outra revista gringa.

Mas fiquei pensando nesses contos em português, para quais revistas eu mando, o que eu faço com eles? Se mando para revistas, se traduzo, se pego esse material e faço autopublicação, se mando para apoiadores que colaboram com o meu site, me ajudam com dez reais por mês para que eu possa fazer esse trabalho.

É tanta coisa. Pensando nos apoiadores, tem tanta coisa que eu gostaria de fazer, ideias, projetos… E vejo meus amigos escrevendo, procurando editais novos, produzindo, e vem essa vontade de produzir, mas principalmente, uma angústia por não estar produzindo, não estar fazendo o que eu gostaria, principalmente em relação aos apoiadores, aos projetos online.

E me pergunto: de onde vem tanta autocobrança?

Nessas horas preciso parar um pouco e lembrar que a vida é feita de fases. É uma estupidez herdada pelo capitalismo essa crença de que a gente deve (ou consegue) ser produtivo o tempo todo. A vida não é assim. Tem época que a gente faz mais, e época que não vai mesmo.

Tenho duas crianças pequenas, estou na fase de cuidar, não na fase de produzir.

E isso é curioso, até por eu ser homem, pois nossa sociedade bizarra espera que a mulher abandone a carreira para cuidar das crianças, e também que o homem ignore que tem crianças pequenas em casa e se dedique de corpo e alma ao trabalho, e nenhuma dessas realidades é plausível, só prejudicam todo mundo.

Se a gente olhar para fora, o mundo é todo feito de ciclos. Começando pelas estações do ano. Talvez eu esteja no meu inverno. Hora de parar quieto, deixar as ideias aflorarem para a primavera. Ou o mar, que vai, e volta. Mesmo movimento da nossa respiração. Produzir é expirar. Mas e a inspiração? Você não consegue assoprar para sempre, ou produzir para sempre. É preciso inspirar também.

Uma das coisas que ferrou a vida nessa pandemia foi o fato de que a gente está completamente desconectado dos nossos rituais, que dão ritmo e sentido à nossa vida. Carnaval, Páscoa, aniversário, Natal. O que é isso? A gente passou o ano inteiro atropelando todos esses rituais, às vezes fazendo do jeito que dá, mas sem essas pausas, essas celebrações bem marcadas que fazem as coisas andarem e pararem.

Tudo isso gera muita frustração. E o meu jeito de lidar com essa frustração é produzindo. Podcasts, escrevendo, fazendo arte. Mas nem sempre consigo. E se não consigo, isso gera autocobrança. Que gera frustração, num ciclo negativo que se autoalimenta.

Nessas horas, preciso só parar e lembrar de respirar. Inspira… Expira…

A música que escolhei para hoje é do Ok Go, e chama-se All Together Now, e tem uma frase que veio de um texto da Rebecca Solnit:

Society is, for a moment, liquid in the chrysalis
(A sociedade está, no momento, líquida, na crisálida)

Então é isso. A gente precisa lembrar de tentar sobreviver no nosso casulo. Para que a gente possa virar borboleta depois.

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