Comecei a ensinar minha filha a jogar videogame. Peguei o Wii, literalmente tirei a poeira, e comecei com joguinhos simples, como o Wii Play, que tem minigames de atirar em balões, controlar um tanque na tela. São jogos muito simples, só para entender como os controles funcionam.
E ela… é muito ruim.
Ela só tem quatro anos. E claro, a gente pode entrar naquela discussão de que é muito cedo para colocar um videogame na frente de uma criança, e concordo que é preciso ensinar primeiro a coordenação motora grossa antes de ir para a fina. Mas no começo da pandemia construí um brinquedão para ela se pendurar, ela sobre, vira de ponta cabeça, se pendura. A gente passa o dia inteiro brincando, acredito que o pouco tempo que jogamos videogame não seja um grande problema.
Mas minha ideia de ensiná-la a jogar foi essa vontade de dividir com ela algo que marcou bastante a minha infância, gerou memórias muito boas. Lembro de muitas noites jogando 007 no Nintendo 64 na casa de um amigo, ou Super Smash Bros em casa.
São memórias que não vão de encontro daquela imagem do jogador solitário na frente de um videogame. Para mim, jogar sempre foi um movimento muito social, algo que gostoso mesmo é fazer com amigos.
Então resolvi colocar Mario Kart para ela jogar. Aí sim… Não, ela continuou muito, muito ruim. Tão ruim que no começo não conseguia controlar, seguir a pista, fazer o carrinho entrar no túnel, não ir direto para a parede, seguir na direção certa.
Isso me lembrou uma teoria que tem a ver com xadrez.
A teoria é a seguinte: se você pegar um adulto que sabe as regras do xadrez, e joga até bem, e colocá-lo para jogar contra alguém de nível intermediário no ranking mundial, a diferença de habilidade é a mesma entre esse adulto e uma criança de cinco anos. Essa diferença se repete quando você pega alguém intermediário e coloca para jogar contra um grandmaster (os melhores do mundo).
A parte interessante é que essa teoria se transfere para praticamente qualquer área do conhecimento ou do esporte. Se você pegar um adulto que sabe jogar basquete, contra uma estrela da NBA, a diferença de habilidade entre essas duas pessoas vai ser entre um adulto e uma criança de cinco anos.
Da mesma maneira, a diferença de capacidade de argumentação entre um Nobel de economia e alguém que só leu um texto na internet vai ser entre uma criança de cinco anos e quem realmente sabe o que está falando.
Tudo isso para dizer que tem muita gente passando vergonha na internet. Gente que acha que consegue rebater argumentos de quem estudou a vida inteira para elaborá-los. Uma criança pequena até pode surpreender com algum truquezinho, mas jamais vai chegar no seu nível de argumentação, físico ou de habilidade.
A gente precisa aprender a dizer “não sei” e escutar mais.
Minha filha, depois de uma semana, começou a controlar melhor o carrinho. Já conseguia seguir mais ou menos a pista, e lógico, batia até não poder mais, mas meio que já sabia o que estava fazendo.
Depois de um mês, eu posso dizer até que pilota bem. Tá, mais ou menos. Mas já consegue seguir a pista, ir pegando as coisas no caminho. E é impressionante, para quem no começo levaria meia hora para terminar a pista, hoje só fica uma ou duas voltas atrás. Já existe a capacidade de controlar.
Nessa idade eles evoluem tão rápido, é impressionante a capacidade de absorver novas habilidades. E isso vale tanto para Mario Kart, quanto para se pendurar no balanço, quanto para fazer polichinelo (Treino em casa e minha filha fica imitando. No começo ela pulava como uma louca balançando os braços, hoje já existe uma coordenação entre mãos e pernas).
Isso me leva a pensar que granmasters em xadrez ou Nobéis de economia também já foram crianças de quatro anos. Então minha filha pode, e vai, evoluir. Lógico, não para virar grandmaster em Mario Kart (talvez). Mas se ela aprender que a habilidade e conhecimento vêm com a prática, com treino, ela pode chegar onde ela quiser na vida.
A música de hoje é Kids do MGMT.
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