Rodrigovk
Escritor, faz-tudo, editor e pai

12 de Junho [A outra Holambra]

A Outra Holambra é uma série de minicontos fantásticos inspirados pela cidade, publicado no jornal local. Veja todos os contos ou comece pelo início.

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“Deve ser difícil ser expulso de casa”, Bia disse para Ana quando chegavam à prefeitura, onde havia o moinho que Roel escolheu como lar. “Deve ser aquele ali.”

“Foi quase ter decidido sair”, respondeu o kabouter, cumprimentando as duas com um sorriso. “Não é como se eu tivesse virado um pária. Meus irmãos vieram visitar ontem.”

“Você vai adorar isso”, disse Ana, segundos antes do kabouter deixar as duas com quinze centímetros de altura. Quando entraram, Ana reparou que ele havia limpado o lugar como prometido. Nenhuma aranha. Parecia aconchegante, a decoração consistia de um sofá feito com palitos de sorvete coberto por musgo, algumas cadeiras e uma mesa, sobre a qual alguns livros bastante usados.

Conversaram um pouco e Roel mostrou alguns truques simples, como mudar a decoração floral com um estalar de dedos. “Agora vou deixá-las a sós”, o kabouter deu uma piscadela nada discreta para Ana e desapareceu.

Ana respirou fundo três vezes e bateu palmas, nervosa, sem saber o que fazer com as mãos, antes de jogar fora o discurso cuidadosamente ensaiado e cuspir as palavras desajeitadamente:

“Eu… Amanhã é doze de junho, e eu… você… A gente.” Ana fechou os olhos tentando fazer o mundo parar de girar. “Eu gosto de você.”

Bia estava vermelha de vergonha, agora era ela que não saberia o que fazer com as mãos se Ana não as tivesse pegado. Então sorriu, balançando a cabeça para os lados, onde havia uma lágrima.

“Droga, Ana! Era pra ser platônico!” Bia saiu correndo. Quando pisou alguns passos fora do moinho, já estava do tamanho normal. Não foi longe, sentando-se no pequeno deck ao lado do lago com as carpas. Pouco depois, Roel apareceu sentado ao seu lado.

“Você gosta dela”, disse o kabouter.

“Você é muito enxerido”, respondeu ela, enfiando o rosto nas mãos. “Tá, gosto. Mas… e todo mundo?”

“Sabe por que eu resolvi aparecer para a Ana? Eu estava cansado de viver escondido. Antigamente, bem antes do meu tempo, humanos sabiam da existência de kabouters. Traziam oferendas, conversavam, juntos fazíamos os campos brotarem. Mas vieram os tratores, a civilização e o medo. Quando rei Kyrië foi morto, Krampus teve a desculpa perfeita, viemos para cá. Mas em vez de criar um novo mundo em Holambra, nos escondemos. Demorei para crescer e descobrir que não era o único jeito.”

Ana estava constrangida, parada a alguns metros de distância, fingindo admirar a construção do moinho.

“Vai lá”, disse o kabouter, entregando uma flor de manacá da serra para Bia. “Se tu não brigares pelo que acreditas, quem o fará?

De longe, Roel sorriu ao ver Bia colocar a flor no cabelo de Ana. Ambas sorriam um pouco constrangidas quando acenaram para se despedir. Logo depois as mãos, um pouco tímidas, encontraram-se ao caminharem juntas.


Este capítulo encerra esta coluna de minicontos, mas a magia continua por aí, na forma de kabouters escondidos em moinhos e estátuas que ganham vida para quem sabe as palavras certas. Basta ter os olhos para ver.

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