Outro dia fui passear com minha família. Fomos aqui ao lado de casa, moramos em um sítio. Foi um passeio muito gostoso, perto do pôr do sol. Ali do lado tem um pasto, vimos os cavalinhos de perto. É aquela coisa, andar de mãos dadas com a esposa, brincar com as crianças. Aquele momento idílico. Tiramos algumas fotos à luz do poente que deixa sua pele ótima, foi um dia muito bom.
Tenho tido dias bons. Isolado, claro, em nosso sítio, quase nunca indo ao centro. Então eu ia postar uma foto, mas de repente, travei. Será que eu deveria?

Porque entrei no Twitter. É onde eu acabo tendo aquele contato mais cru com a realidade em que a gente está vivendo agora. É um sentimento forte que me invade, de raiva, revolta, medo. E talvez, principalmente, abandono. E me veio uma sensação estranha, como se o fato de eu estar vivendo bem, de estar tendo dias felizes com minha família, é de alguma forma, errado.
Principalmente, levando em conta, claro, o meu privilégio, de ter uma renda que me garanta uma casa, uma segurança alimentar. E ainda produzindo conteúdo e postando coisas na Internet. Será que isso não é uma falta de respeito em relação ao luto?
Levantei essas questões com a esposa, conversamos um pouco, e ela usou um truque de olhar para os extremos. Então, de um lado, o que seria o “certo”, ficar o dia inteiro prostrado? Ou, no outro extremo, o influencer dando festa, vivendo feliz da vida e tendo contato com dezenas de pessoas? Se esses são os dois extremos, sei lá, estou em algum lugar do meio do caminho só tentando viver minha vida.
E ela lembrou também do fato que conseguir ser feliz com o que se tem, na situação em que está, também é uma forma de resistência. Principalmente quando o governo quer que você viva com medo, em desalento, e a gente está neste sistema capitalista que quer você sempre triste, porque se estiver infeliz você vai consumir (independente da sua renda, o importante é estar insatisfeito).
E volto naquela questão de produzir conteúdo na web, se eu deveria ou não, mas não sei. O que sei é que eu não vou mudar o mundo. Não tenho alcance, não tenho meios, não tenho influência. O que posso fazer pelo coletivo é ficar em casa, usar máscara e rezar aqui da segurança do meu quarto.
E talvez, colocar conteúdo na Internet para melhorar o dia de alguém com uma história, com uma reflexão. Se alguém ficar feliz, ou se isso ajudar alguém, vai ter valido a pena.
Escolhi a música “Mortal Man”, do Jeremy Loops para este episódio.
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