Se você perguntar para qualquer escritor o que fazer quando termina um romance, onze cada dez vão dizer “comece a escrever o próximo.”
Dentre as várias sabedorias contidas nessa frase, uma delas é que o processo editorial leva tempo. Demora.
Hoje recebi a imagem da capa de um livro meu que está para sair entre o fim desse ano e o ano que vem. E terminei esse livro antes da minha filha nascer, há mais ou menos cinco anos. Digo, a última versão dele, porque foi completamente reescrito três vezes, o que deve ter levado aí mais um ano e meio.
Demora. Demora para escrever, demora para trabalhar o texto, demora para encontrar um lugar para publicar, isso quando você consegue.
Esse ano vou plantar um bosque ao lado de casa. E pensando que árvores plantar, fui estudar reflorestamento para extração de madeira, e é um negócio de 21 anos, em média. 21 anos atrás eu estava na oitava série, mais preocupado com o fato de nunca ter beijado. Se eu plantar hoje, daqui 21 anos… Sei lá. Meus filhos vão estar na faculdade, ou formados, e eu não faço ideia de que mundo vai ser.
Mas se você vai começar um negócio, geralmente são cinco anos para dar retorno. Uma mangueira não enxertada, de semente, pode demorar doze anos para dar manga. O bosque que eu vou plantar aqui vai levar cinco anos, no mínimo quatro, para começar a ter alguma cara de bosque.
Aquela história de dez mil horas para aprender a fazer algo direito, são dez anos. Segundo o pesquisador Robin Dunbar, você precisa de 200 horas num espaço de dois anos para tornar um desconhecido em amigo íntimo.
A gente está vivendo uma pandemia há um ano e meio, nem é tanto tempo assim. Mas foi o um ano e meio mais longo da minha vida.
O mais louco é que eu trabalho com marketing. Se você não mostra resultado em um mês, três, no máximo um ano, está na rua.
Nas redes sociais o coraçãozinho vem em segundos. E, bom, se não vier em 30 minutos, pode esquecer que o algoritmo já engoliu. E s stories desaparecem depois de 24 horas.
Às vezes eu me pergunto se a gente desaprendeu a esperar. A aceitar o tempo das coisas. Ou não, porque as coisas têm tempos diferentes e é assim mesmo.
Outro dia vi um gráfico com vários círculos concêntricos, cada um gira num tempo. No centro, mais lento está o tempo da natureza. Depois, respectivamente o tempo da sociedade, da cultura, dos costumes, da moda.
Algo no sentido de que a moda você consegue mudar meses, costumes em anos, cultura décadas, e uma sociedade em centênios.
Bom, eu faço pão de fermentação natural, o que exige que eu alimente o fermento no dia anterior, sove a massa umas oito da manhã para comer o pão lá pelas quatro ou cinco da tarde.
O que eu quero dizer é que as coisas levam o tempo que levam. Mas muitas vezes vale a pena esperar.
A música de hoje é Não chora, do Móveis Coloniais de Acaju, porque a esposa reclamou que eu recomendo pouca música brasileira aqui.