Outro dia resolvi fazer geleia de jabuticaba. Do zero.

Então eu fui lá, colhi as jabuticabas do pé, lavei bem lavadinho, foi pra panela para aferventar, depois pra peneira, panela de novo, acrescenta açúcar, tira a espuminha que forma, mexe, e depois de mais de uma hora lá estavam meus potinhos de geleia.

Ou quase isso. Porque ficou uma merda.

A lição de hoje é que você pode dedicar muito tempo em alguma coisa e sair de mãos abanando.

Nah, não é bem isso. Primeiro que não ficou tão ruim assim, só deu uma amargada. E não deu ponto direito, ficou mais licor do que geleia.

Ou seja:

• Provavelmente as jabuticabas que eu colhi já não estavam essas coisas, porque ficaram uma semana na geladeira.
• Aquela dica da Rita Lobo de amassar bem na peneira? Tem gente na internet que diz que isso pode amargar.
• Faltou, talvez uns cinco minutinhos de panela até dar ponto. Ponto é uma coisa muito difícil de aprender online, é prática mesmo.

O que eu quero dizer é que por mais que eu não tenha saído com a geleia gostosinha, eu saí com um rol maior de conhecimentos da experiência toda. E quer saber? A experiência já valeu.

Porque eu adoro aprender.

Se eu tenho talvez uma obsessão é por aprender a fazer coisas novas. Explorar, seja na cozinha, na marcenaria, projetos, online.

Eu estou fazendo uma mesa de madeira de demolição, e na estrutura do pé dela eu usei uns encaixes de rabo de andorinha, que não precisava, mas eu queria testar, ver como fica, ver se eu consigo fazer.

Esposa diz que essa cabeça avoada é coisa de gente de gêmeos. Porque eu não consigo parar quieto muito tempo fazendo a mesma coisa. O que é um defeito até muito grave, é difícil para mim continuar repetindo alguma fórmula que dê certo. Talvez por isso eu não saiba ganhar dinheiro.

E talvez por isso eu tenha inventado um negócio todo baseado no fato de estar sempre aprendendo algo, seja com produção de frutas, seja com os cursos que a gente quer inventar no Espaço Kabouter, seja em processos de bioconstrução.

A gente esquece que aprender, estar disposto a aprender, é estar disposto a fazer cagada.

No Instagram todo mundo acerta de primeira. Na vida real não é tão bonito. Mas aprender é curtir o processo, se descolar um pouco do resultado. Se tem uma coisa que eu queria conseguir ensinar para minhas crianças é isso, curtam o processo.

Aprender a desenhar rabiscando as folhas, só curtindo os movimentos das mãos sem se preocupar com a imagem que aparece. Aprender a abrir massa de pizza mesmo que ela fique torta. Cara, não sei aí, mas aqui é algo tão difícil descolar do resultado.

Talvez porque essa seja a minha jornada. Eu preciso aprender isso. É foda, criança pega o que você sente, não o que você diz.

Quando resolvi aprender a fazer pão de fermentação natural, os dez primeiros foram para o lixo. Lixo mesmo, não ficou ruinzinho, ficou pedra, ficou carvão, ficou cru. Mas quando eu acertei… Cara, que delícia.

Eu ainda faço esse pãozinho de vez em quando. E outros também. Mas o que ficou da experiência, principalmente, foi aprender a manipular a massa com as mãos. A sovar, a tirar da tigela com a ponta dos dedos, transferindo para a bancada sem que ela grude nas mãos. É um conhecimento que transfere, para vários tipos de pão, até massa de pizza eu sovo de vez em quando.

Uma dica boa é que a mão tem que estar bem seca antes de mexer na massa, e vale até enfarinhar a mão. Porque mão úmida é meleca na certa.

Tem muita coisa que dá para aprender na Internet. Mas tem coisa que a gente só aprende fazendo.

Você pode terminar com uma geleia amarga. Mas a jornada vai ter valido a pena.

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