Um conselho que você vai ouvir de todo profissional: invista em boas ferramentas. Mas quer saber? Esqueça. Compre aquele kit baratinho com trezentas peças.
Essa é uma dica pra vida.
Uns meses atrás vi um vídeo que viralizou (pelo menos entre pessoas que assistem a pessoas fazendo coisas) sobre quais seriam as cinco primeiras ferramentas para quem está começando em marcenaria. E dizia:
“Escolha individualmente. Não compre um kit com centenas de ferramentas. (…) Compre de boas marcas. Makita, Bosh, DeWalt.”
Um conselho comum, até banal. Mas talvez o conselho certo para a pessoa errada. Ou vice versa.
Tenho pensado muito no inverso.
Quem pergunta sobre ferramentas é quem está começando. E, pela santidade do argumento, vamos assumir que quem começa um hobby, uma carreira, não tem dinheiro sobrando para comprar de tudo do melhor. Escolhas terão que ser feitas.
Só que quem começa não sabe o que vai usar.
Olha só, faz muito mais sentido comprar um kit com cem, cento e cinquenta peças que serão meio chinfrim mesmo. E vão quebrar.
Agora, quais vão quebrar? As que você usar mais. Aí dessas você compra uma versão boa.
Eu poderia dizer que um alicate decente é essencial. Mas eu não sei o que você vai fazer! E você também não sabe ainda.
Quando eu comprei a tupia, eu fui lá na loja e comprei uma caixinha com doze fresas. E amei algumas que faziam cantinhos especiais, já imaginando o tipo de acabamento que eu faria. Hoje eu nem encosto nessas, uso basicamente três peças só. Uma delas até perdeu o rolamento. Cada uma dessas, individuais e de boa qualidade, custa mais que aquele kit inteiro. Mas eu não tinha como saber quais eu precisava antes de sair brincando.
Como é que você diz para alguém que está aprendendo a tocar violão que ele deveria comprar um bom violão? Será que não faz mais sentido usar aqueles dois mil reais para comprar um violão usado, um teclado, uma flauta, meia dúzia de instrumentos de percussão e um baixo? Principalmente se o ser humano em questão morar com outros seres humanos.
É lógico que em determinado momento você vai superar essas ferramentas baratas. Seu nível de habilidade vai exigir materiais mais precisos. Quando a gente chega nesse ponto a pergunta já é outra.
“Mas Rodrigo, qual o problema de já não comprar direito uma parafusadeira Bosh, uma serra Makita, uma Fender Stratocaster ou um piano de cauda para sua sala de visita?”
A gente se conhece menos do que imagina. Eu posso começar um curso de piano clássico e descobrir que eu gosto mesmo é de popular. Ou jazz.
Tem gente que entra em marcenaria pra fazer coisa grande. Armário, ponte, prédio. E tem gente que curte mesmo ficar lixando passarinho de madeira. Mas você só descobre colocando a mão na massa. Testando, experimentando, seguindo suas mãos, seu coração.
O cara que está com uma stratocaster na mão não vai se sentir encorajado a tentar umas notas no baixo.
A gente é muito apegado à falácia do custo afundado. Aquela grana, aquele tempo que você investiu num negócio que não dá retorno. Mas em vez de assumir o prejuízo e cortar a fonte, você dobra o investimento.
Muita coisa na nossa vida está montada nesse conceito. A gente vai lá, escolhe uma faculdade, coloca quatro anos da vida nisso, às vezes mais, e de repente está numa profissão que em algum momento você percebeu que não era o que você queria. E o custo pra mudar tudo isso?
Não faria mais sentido um ano ou dois para experimentar mais? Com aulas baratas, ferramentas baratas, um pouquinho de cada coisa só pra descobrir pra onde a gente vai?
É assim que eu vou tentar ajudar minhas crianças a crescer. Comprando os kits mais completos e baratos e xexelentos para que eles possam explorar um pouco de tudo. As ferramentas que quebrarem, o lápis de cor que virar toquinho, os instrumentos que afundarem as teclas de tanto apertar…
Esses sim valerão um bom investimento.
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Eu sou Rodrigo van Kampen e escrevi, apresentei e editei esse Egotrip. A trilha sonora é de Wohkeret , cortesia de Uppbeat. Você me encontra no Youtube, Instagram e via newsletter.
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