Já faz um bom tempo que saí de todas as redes sociais. Culpa do tal algoritmo: as redes me mostram conteúdos que “eu deveria ver” e escondem os conteúdos que escolhi seguir.
Algoritmo em si não é ruim: é um mecanismo de filtragem e recomendação. O problema é o incentivo: quando esse mecanismo trabalha para extrair cada segundo da sua atenção e leiloar para anunciantes, o resultado é… aponta para tudo.
Não que eu não goste dos vídeos do Instagram, mas é como comer um saco inteiro de salgadinho. Os primeiros vídeos até são gostosos, mas depois de meia hora estou me sentindo um lixo. E viciadinho, perdendo tempo que eu deveria estar aproveitando com minhas crianças. Prefiro evitar. Dependendo da época sou mais bem ou mal sucedido nisso.
“Mas se você não usa Instagram, nem TikTok, e agora nem o aplicativo do Substack, você não consome conteúdo?”
Há, aí que você se engana. Sou um consumidor voraz de conteúdos que me interessam. Sempre gostei de acompanhar blogs, hoje acompanho newsletters. (E blogs.)
Se a newsletter desperta meu interesse, assino sem vergonha mesmo, e também deixo de assinar quando vejo que não me interessa mais.
Outro dia vi um aleatório dizendo que “o Substack é a única plataforma que não é de um bilionário, por isso continuo aqui.” Oi? Gente, Internet não são 5 sites, mas bilhões de sitezinhos independentes interconectados. A Internet independente não foi para lugar algum, continua por aqui.
Muitas das newsletters que assino também são recheadas de links para sites (sites! em 2025! imagine só!), e vou pulando de conteúdo em conteúdo. Existe um prazer único em guiar seu barquinho pela internet na direção da sua curiosidade em vez de deslizar passivamente por onde as ondas do capitalismo te arrastam. Ajustar o leme e as velas dá mais trabalho, mas vale a pena.
Então, nessa primeira missiva enviada por esta plataforma, vou contar como eu faço para consumir conteúdo hoje.
E já aproveito para odiar essa linguagem insossa. A gente não “consome comida”, a gente come, saboreia, se delicia, se serve, digere. Olha a quantidade de metáforas! Então:
Como leio, vejo e ouço em 2025
São 5 ferramentas principais:
- PocketCast para podcasts.
- Assino alguns canais no Youtube.
- RSS para blogs e sites de quadrinhos
- Email para newsletters, links e para salvar coisas interessantes para compartilhar depois.
- Favoritos no Firefox.
Na ordem:
Uso o PocketCast para assinar podcasts. Funciona para mim, mas não preciso de muitos recursos no meu escutador de podcasts, apenas o download de novos episódios e lembrar onde parei (sempre paro na metade). Acabo recomendando poucos podcasts por aqui, talvez porque o meu momento de ouvir podcasts é sempre fazendo outra coisa, seja cuidando da casa, seja horas lixando alguma peça na marcenaria. Aceito recomendações de outros escutadores de podcast.
Também assino alguns canais no Youtube, mas pouca coisa. O que funciona para mim são vídeos entre 5 e 15 minutos, e acabo não encontrando tanta coisa assim nesses formato que me interesse acompanhar.
RSS é uma tecnologia antiga que volta e meia parece que “vai voltar”, mas é como os hominídeos acompanhavam blogs na idade da pedra. Ainda funciona bem, principalmente porque o WordPress tem o RSS embutido no sistema. Usava o Feedly, a conta gratuita me atendia muito bem até eu ficar de saco cheio dele tentar me vender a “conta paga com melhorias por IA” o tempo todo. Agora uso o FreshRSS instalado em servidor próprio.
Por fim, o que uso mais: o bom e velho email! Antes que você me xingue, vamos deixar claro:
- Newsletters no meio dos e-mails que você recebe do chefe, do cliente ou da loja de sapato = uma zona.
- Email exclusivo que funciona como leitor de newsletters = delicinha.
Qualquer um funciona. Pode ser Gmail, Yahoo, até BOL. O importante é ter um email que você use para receber todas as suas newsletters. Ali dá pra organizar por pastas, criar filtros, marcar com tags. Não faço nada disso. Vou lendo uma atrás da outra. Sim, eu leio todas as newsletters que assino. No mínimo uma leitura dinâmica quando o assunto daquela carta não me interessa. Geralmente à noite quando estou no quarto esperando as crianças dormirem, ou para relaxar depois do trabalho.
Vantagens:
- Você acessa todas as suas newsletters no mesmo lugar. O app do Substack só vai deixar você ler as newsletters que fazem parte da plataforma, e tenta te fazer ler coisa que você não pediu.
- Você pode ler no computador ou celular, ou tablet. (E tudo fica sincronizado automaticamente).
- O conteúdo que te interessa chega diretamente até você, sem algoritmos no meio do caminho.
- Dá para ler bem rápido, uma atrás da outra.
- Links e recomendações sem filtro ou penalizações (sem “link na bio” que te leva a um site com um milhão de coisas enquanto você fica procurando aquele que te levou ali pra começo de conversa).
No meu caso, como eu uso um e-mail da hospedagem de meus sites, uso o K-9 Mail no celular e o Thunderbird no computador. Mas você pode facilitar sua vida e usar o próprio app do email que estiver usando.
Algumas cositas más que faço com esse email:
- Para salvar um artigo para ler mais tarde, mando o link para este email. Fica ali salvo no meio das newsletters.
- Quando uma newsletter é bacana e quero guardar para compartilhar, coloco uma estrelinha e arquivo. Também envio para esse email links que quero compartilhar. Assim, na hora de escrever as recomendações, está tudo ali.
Por fim, lembra o último item, os favoritos do Firefox? É para algumas coisas que só estão em redes sociais, ou sites que não têm RSS. Alguns perfis de familiares no Instagram, novidades de lojas da cidade. Vou na pastinha, clico em “abrir todos os favoritos de uma vez”, vejo o que tem de novo, bloqueador de anúncios no navegador dá conta de ocultar conteúdo indesejado, e boa. Entrar, ver, fechar. Sem ficar navegando na rede social.
Parece trabalhoso?
Talvez. É o meu sistema, e funciona bem para mim. Em 15 minutos “passei por tudo”. Artigos longos ficam para aquele momento mais tarde. Não espero que você vá usá-lo igualzinho, até por isso não expliquei detalhes técnicos. É o tipo de coisa que funciona bem com quem gosta de fuçar e de montar sua própria rotina, de fazer a tecnologia trabalhar pra você. Alguma ideia daqui deu bom? Pode adaptar à vontade!
Existe nesse sistema um exercício do poder da escolha, ou melhor um exercício de direcionar minha atenção ao que eu quero ver. Mais recomendações de amigos, menos recomendações do algoritmo capitalista.
É por esse caminho que quero encerrar: estamos todos exaustos de “consumir conteúdo”. Mas que “conteúdo”? Propaganda, influenciadores tentando socar mil palavras por minuto, conteúdo feito para viralizar, atenção recortada.
Não estamos lendo aquele post bacana que seu amigo escreveu refletindo sobre ir à praia com as crianças e ver a filha pisar no mar pela primeira vez. Ou vendo foto da gata daquela amiga de internet que você só conhece pelos posts no blog.
Chamar tudo isso de “conteúdo” pode passar a sensação de que é tudo a mesma coisa, mas não é. É sobre voltar o olhar para o que interessa, e tentar fugir desse bombardeio mental. Porque cansa. Porque passar o dia consumindo coisas que te enfurecem só faz bem para o dono da rede social.
Rodrigovk